quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A LEITURA NA IDADE DO ARMÁRIO


«Em suma, o adolescente não fecha a porta para sempre. Precisa de espaço e autonomia, pelo que não o podemos sufocar com a nossa prestável ajuda, como fazemos com as crianças. Temos também de perceber que está a construir o seu mundo a partir de estímulos diversos e simultâneos. Um livro adorado hoje será odiado amanhã, ou talvez não. E muito provavelmente um livro impenetrável hoje será legível amanhã. Para lermos com sucesso, temos de relacionar em permanência o que lemos com o nosso conhecimento prévio. Muitas vezes não damos por isso, mas sempre que lemos estabelecemos ligações. Por isso empatizamos com personagens, situações, descrições, ousentimos tristeza, nostalgia, medo, alegria, solidariedade, revolta. Se o livro estiver noutro hemisfério, para nós totalmente desconhecido, não o conseguimos ler. Pensando nos adolescentes e na instabilidade do seu desenvolvimento, a probabilidade de isto acontecer é muito maior. E é natural que assim seja.

A Promoção faz-se tentando e errando sempre. Muitos frutos não se vêem no imediato, não podemos cair na tentação de verificar se fizemos tudo bem, se o fizermos estamos a controlar a liberdade do outro e deitamos todo o trabalho por terra. Não há fórmulas milagrosas, há caminhos. Alguns não leitores nunca se tornam leitores, e têm esse direito. Muitos tornar-se-ão leitores selectivos, quando chegarem à idade adulta. É um mistério e uma maratona, necessariamente altruísta



(Só por falta de tempo é que ainda não tínhamos lido e linkado este excelente texto da Andreia Brites, entusiasta promotora da leitura e blogger do Bicho dos Livros. Ler tudo, mas tudo mesmo, aqui.)

3 comentários:

sw disse...

Acabei de ler o texto e gostei muito. Obrigada, Carla, pelo link. E parabéns à Andreia - há muito tempo que não lia uma coisa tão acertada sobre esta problemática do livro na adolescência (a idade do armário ;-). Gostei especialmente da parte que fala sobre a relação do livro com os afectos - do tempo que é só nosso (pais e filhos) em torno do livro e que, por isso mesmo, o prazer da leitura e do livro dificilmente se impõe mas, diferente, partilha-se, como os afectos... Sim, falar muito sobre livros, gosto disto. Obrigada!

Carla Maia de Almeida disse...

Os parabéns vão todos para a Andreia, porque acredita no que faz e acredita no seu "público". Abraço, Sofia!

Andreia Brites disse...

Obrigada Arqui-Rival... Fico à espera de novidades para poder retribuir os elogios!