quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

ANIVERSÁRIO


cada dia que passa escrevo menos, e o pouco que escrevo exige todo o tempo disponível, requer paixão e partilha.
está frio de quebrar ossos.
às vezes queria ser pastor, homem transumante, ir e regressar com o sol e as chuvas, ir e regressar eternamente com o ciclo das estações.
hoje fiz trinta e seis anos. acabaram-se algumas coisas na minha vida, sinto isto, apesar de ainda não perceber claramente o quê. estou certo que a juventude não recomeça nunca, nem terá início hoje. habituo-me à grande desolação dos dias
diz o horóscopo que os capricórnios têm uma velhice feliz. a velhice, dizia Céline, é um sobejo da vida.
escasseia o tempo na tentativa de vislumbrar algum sossego.
escrever, passar a vida a escrever, para quê?

(in O Medo, de Al Berto, que faria hoje 64 anos)

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