terça-feira, 29 de maio de 2012

O VALOR DAS CASAS



Enós e os aprendizes

Era uma vez um homem que fazia casas.
Chamava-se Enós e era o melhor construtor até aí jamais visto. As suas casas eram as mais bonitas e perduráveis.
Certo dia, dois aprendizes vieram ter com ele e disseram-lhe:
– Um dia vais morrer e não haverá ninguém para continuar o que tu fazes. Por que não nos ensinas o segredo da tua arte?
Enós achou razoável o que lhe pediam e, generoso, deu-lhes tudo o que sabia.
Mas, uma vez na posse do conhecimento, pensando que já eram importantes como o mestre, desprezaram-no e afastaram-se dele.
E onde Enós cobrava oitenta dinheiros, eles cobravam setenta, e diziam que as suas casas eram mais baratas e igualmente resistentes.
E assim as pessoas deixaram de dar valor às casas de Enós e conformaram-se com as casas dos aprendizes.
Enós empobreceu até ao ponto de lhe faltar o essencial, mas nem na miséria aceitou fazer casas que não fossem perduráveis.

(Um pequeno conto de Maria Teresa Andruetto, prémio Hans Christian Andersen 2012 na categoria de Escritor, incluído no livro Miniaturas, Macmillan, 2011. Tradução minha a partir do original em castelhano.)

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