Com a recente mudança gráfica e editorial da revista LER, também as «Leituras Miúdas» sofreram uma reviravolta. Menos crítica, menos texto, menos páginas, como em toda a revista, mas algumas novas secções que me estão a dar muito gozo escrever. «Wendy no divã» é uma delas. Onde se fala das perturbações mentais e casos patológicos dos personagens da literatura infanto-juvenil (e são quase todos!). Noblesse oblige, coube ao Chapeleiro Louco abrir as hostilidades. Para a semana, chega o Lobo Mau.
Chapeleiro Louco
É um caso grave de psicose partilhada, talvez originada pelo abuso de chá. Não
há remissão possível para quem tenta reparar um relógio com manteiga.
A expressão «louco como um
chapeleiro» já existia antes de Lewis Carroll ter escrito o capítulo sete de Alice no País das Maravilhas. Contudo,
os sintomas patológicos causados por intoxicação com mercúrio, metal outrora
usado na confecção de chapéus, não coincidem com o quadro clínico psicótico do
Chapeleiro Louco. É muito possível que tenha sido inspirado na figura de
Theophilus Carter, um comerciante excêntrico, contemporâneo de Carroll, que
inventou um relógio de cabeceira com sistema de alarme. Tal explicaria a
obsessão do personagem com o tempo e a hora do chá: «Agora são sempre seis
horas», diz, deixando Alice à beira de um ataque de nervos. Com a Lebre de
Março e o Arganaz, companheiros de delírio, é um caso evidente de folie à trois, ou psicose partilhada. Proferiu
um enigma esfíngico, exemplar do espírito nonsense:
«Em que é que um corvo se parece com uma escrivaninha?» Desde a publicação do
livro, em 1865, surgiram inúmeras respostas. O Chapeleiro ri-se.
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