domingo, 20 de outubro de 2013

DOS JORNAIS, 1


É pena que o Público não tenha posto online (acessível a todos) esta reportagem de Andreia Sanches, publicada na edição de ontem. «Não quero ser como os meus pais» é um título que sobressalta, quando sabemos que as crianças crescem imitando os comportamentos dos adultos. Que um adolescente de 15 anos diga isto, referindo-se a um núcleo familiar «normal», é revelador de uma desesperada lucidez que a escola devia ter capacidade de perceber. Mas, claro, não há psicólogos que cheguem nem se considera prioritário saber o que vai na cabeça das pessoas, ainda que não faltem psicólogos no desemprego e o suicídio seja a segunda causa de morte em Portugal. Alguns excertos significativos:

«Todos os dias, o casal sai de manhã e faz o que milhares de outros fazem: regressa a casa pelo congestionado IC19. Chegam a casa à noite, conta Pedro Proença, o advogado de defesa. Não é a vida que o adolescente ambiciona para o seu futuro.»

«Nunca houve propriamente discussões com a família. Mas o jovem, filho único, aluno do ensino secundário, de um curso de Economia, foi-se isolando dos pais. A sua rotina era esta: casa-escola-casa-jogos-de-computador. E livros. Lê bastante.»

«Disse-me [ao advogado de defesa]: 'Não quero ser igual aos meus pais'. Não se identifica com alguns valores, ter uma vida monocromática, sair de manhã para ir ganhar dinheiro, voltar à noite exausto, prescindir de uma existência mais interessante e de uma relação afectiva com os filhos.»

«Ao advogado, o rapaz disse que há muito se sentia triste. Queixou-se do curso de Economia. "Disse-me: 'Quando vejo o que o Governo faz com o país, começo a odiar a área que escolhi'."


(Detachment, o filme de Tony Kaye, tem tudo, mas tudo a ver com isto. Na imagem, liceu de Columbine, nos EUA, onde a 20 de Abril de 1999 dois estudantes mataram 13 pessoas e se suicidaram em seguida.)

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