quinta-feira, 7 de novembro de 2013
EM TODA A PARTE EM NENHUMA PARTE
Há dias em que daria um certo jeito ter o dom da ubiquidade. Na Casa Fernando Pessoa, às 18h30, celebra-se o centenário de Albert Camus, nascido a 7 de Novembro de 1913 num meio pobre do que era então a Argélia francesa. A quinhentos metros dali e à mesma hora, na Capela do Rato, José Tolentino Mendonça apresenta o seu último livro, Os Rostos de Jesus (ed. Círculo de Leitores/Temas e Debates), um ensaio sobre as muitas figurações de Cristo nos cruzeiros de pedra fotografados por Duarte Belo. Além da coincidência geográfica e de qualidade intelectual dos presentes (António Mega Ferreira na Casa Fernando Pessoa; José Mattoso e Tolentino Mendonça na Capela do Rato), há também aqui uma curiosa convergência moral, literária e política. Se Albert Camus, escritor e jornalista do combate pela liberdade e pelo homem, foi um agnóstico com o sentido do sagrado, José Tolentino Mendonça, poeta e teólogo, é um escritor que pensa Deus e a religião trazendo sempre o indivíduo para o centro. Não é demais recordar que a Capela do Rato foi o centro da famosa vigília que juntou crentes e não-crentes na contestação à guerra colonial, nos finais de 1972, na mesma altura em que em Moçambique ocorreram os infames massacres de Wiriyamu, Chawola e Juwau. Tudo isto dá que pensar, mas, sobretudo, ouvir. Agora, escolham. Pode dizer-se que, hoje, Campo de Ourique está no centro do mundo.
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