segunda-feira, 25 de novembro de 2013
MANHÃS QUE BRILHAM
as manhãs começam logo com a morte das mães,
ainda oito dias antes lavavam os cabelos em alfazema cozida,
ainda oito anos depois os cabelos irrepetíveis,
todas as luzes da terra abertas em cima delas,
e então a gente enche a banheira com água fria até ao pescoço,
e tudo brilha na mesma,
brilha cegamente.
(Do livro Servidões, um poema de Herberto Helder dito pelo jornalista da TSF Fernando Alves, numa produção audiovisual Cine Povero. Mais no Vimeo.)
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4 comentários:
Sublime!
Texto belo, sem dúvida alguma; voz perfeita; e imagem singela e pura.
Veio-me à memória a sequência do bailado de um saco de plástico, em Beleza Americana (Sam Mendes).
Obrigado pela partilha.
Lelia Doura
Espero que algumas mães não o achem lúgubre... :-)
Espero que não, efectivamente.
Estava longe dessa leitura.
Movi-me, apenas, pelo deleite estético e plástico que ambas me suscitaram.
A minha mãe compreender-me-ia, certamente... :-)
LD
Obrigado à Carla pela publicação do vídeo e à Lelia pelas simpáticas palavras.
O tema não é agradável, eu sei... Este vídeo surgiu-me num repente, e foi-me "pedido" por outro vídeo mais trabalhado que publicara sobre o mesmo tema, para um poema de Camilo Pessanha ("Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho").
Liguei os dois num curto ciclo, inspirado pelo modelo das Cinco Fases do Luto elaborado pela psiquiatra suiça Elisabeth Kubler-Ross. O poema de Pessanha ligar-se-ia à fase da depressão, o de Helder à fase (final) da aceitação.
Espero que ambos possam ajudar a minorar o sofrimento do luto (real ou antecipado).
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