terça-feira, 22 de julho de 2014

MARY SHELLEY PARA CRIANÇAS


Alguma editora portuguesa poderia fazer o favor de publicar o único conto para crianças escrito por Mary Shelley, dois anos depois do clássico Frankenstein? Datado de Agosto de 1820, quando ela estava prestes a completar 23 anos, Maurice, or the Fisher's Cot: a Tale só foi descoberto por acaso em 1997, numa casa particular na Toscânia, e publicado no ano seguinte. Como então se explicou, o interregno de 177 anos sucedeu à desaprovação do pai de Mary Shelley em relação ao manuscrito: por razões editoriais e pessoais, William Godwin, também autor e editor de livros para crianças (além de reputado filósofo), censurou o texto da filha, com quem andou de candeias às avessas depois da sua (literal) escapadela romântica, aos 17 anos, com o poeta Percy Shelley. Tiveram três filhos, todos falecidos prematuramente; e rodearam-nos outras perdas de crianças, tema que subjaz a Maurício ou a Cabana do Pescador, traduzido no Brasil há poucos meses. Não sei, mas uma história que começa com um miúdo solitário a assistir a um funeral promete ser boa. Ainda que, como adverte a Folha de S. Paulo, «frases complicadas e palavras difíceis, como "conquanto", "goivos", "gerânios" e "olmos"» pipoquem pelo texto. Não faz mal: daremos conta delas. É que gostaríamos mesmo de ver Mary Shelley pipocando por aqui.

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