quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

MORTALIDADE, MORALIDADE


Tenho três gatos. Já aqui escrevi sobre eles, várias vezes, e sobre animais em geral. Gosto de animais porque gosto da Natureza; não gosto de todas as pessoas, nem todas as pessoas gostam de mim, porque há demasiadas comparações e juízos nesse conjunto de forças individuais e sociais a que se chama Cultura. Refiro-me à dicotomia antropológica Natureza e Cultura, evidentemente. Mas não interessa, para o caso. Tenho três gatos (ou «eles é que me têm a mim», como dizia Agostinho da Silva) e em breve vou ter apenas dois; e quando digo «em breve» quero mesmo dizer dentro de dias ou de horas. Depende de uma decisão que parte da minhas emoções e termina na moralidade, no meu sistema de valores. É sempre assim. Todas as formas de sofrimento, físico ou psicológico (para o cérebro, a leitura é semelhante, explicam as neurociências), acabam por interrogar a nossa humanidade, a nossa consciência. Isto, se não formos uns brutos ou psicopatas. Devo prolongar a vida dele por mais alguns dias, correndo o risco de repetir o sofrimento intenso e repentino pelo qual passou? Devo partilhar a dor da perda iminente com mais alguém, sabendo que nenhum dos meus amigos tem, neste momento, uma vida fácil? Como enfrentar a provação que será devolver o seu corpo à terra e à Natureza? São questões que merecem tempo, sabendo de antemão que o «dever», o «sentir» e o «reflectir» nem sempre estão de acordo quando se trata de chegar ao inevitável: decidir.

1 comentário:

Uva Passa disse...

Deixo-lhe aqui um grande abraço. Perdi o meu gato (já com 14 anos) e foi uma das coisas que mais me custou.