terça-feira, 13 de janeiro de 2015

SINÓNIMOS PARA A 'CRIANÇA INTERIOR'


Estamos em contagem decrescente para o colóquio que acontecerá na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, dias 9 e 10 de Fevereiro, comissariado pela jornalista Inês Fonseca Santos e denominado É então isto para crianças? - Criações para a Infância e a Juventude

Desde o colóquio Formar Leitores para Ler o Mundo, também na Gulbenkian, em 2009, não surgia nada tão estimulante. A aproximação a um tema tão vasto parte de um ângulo menos óbvio e com uma forte tónica subjectiva, posto que a questão se coloca do lado de quem pensa e faz o objecto criativo: escritores, ilustradores, músicos, coreógrafos, realizadores, editores e outros agentes, em alguns casos «agentes duplos» ou mesmo «triplos» (Afonso Cruz, João Paulo Cotrim, Regina Pessoa...). E eis então a pergunta que importa interrogar: «o que é afinal uma criação para a infância? Cria-se para ou será que o que é criado encontra naturalmente, na sua fase final e última, aquele a quem se destina?» 

Como moderadora do primeiro debate, «É então isto um livro?», onde vão estar Catarina Sobral, João Fazenda, Francisco Vaz da Silva e Davide Cali, interessa-me muito reflectir sobre os mecanismos conscientes e insconscientes que ligam o criador à coisa criada, partindo desse lugar de potencialidade pura em que tudo é possível: a infância. Tudo é possível porque tudo está no princípio, longe da morte. Atravessar esse estado de máxima confiança e máxima vulnerabilidade não é tarefa fácil; muitos sucumbem pelo caminho, construindo egos postiços que lhes hão de servir pela vida fora, no trabalho, nos casamentos, em frente ao espelho.

Leio Bachelard, Jung, Joseph Campbell, Marie-Louise von Franz, Ursula K. Le Guin, Alice Miller, Erik Erikson e outros pensadores que estudaram a «criança interior», um conceito psicológico não erudito, infelizmente degradado pela força do uso e abuso na praça pública, mas que me parece indissociável deste debate. Ando à procura de sinónimos para falar na tal «criança interior» sem arrepelar os neurónios do público nem fazer de conta que se ouvem sininhos no palco do auditório da Gulbenkian. Não é fácil, mas lá chegarei.

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