quinta-feira, 16 de abril de 2015

BORBOLETA NO JARDIM


Que uma alemã de 21 anos se faça passar por jornalista e se infiltre numa reunião do Banco Central Europeu, espalhando confettis e gritos de rebeldia por cima dos «donos disto tudo», é de uma coragem e de uma graça extraordinárias. Pouco importam as vozes cínicas que vão comentar a ingenuidade da carta ou a tanguinha insolente da miúda. Gestos simbólicos como o de Josephine Witt contêm um potencial tremendo de consciencialização colectiva (como o punho levantado dos atletas negros nos Jogos Olímpicos de 1968, como a recusa de Rosa Parks em ceder o lugar no autocarro a um branco, como tantos outros que não ficaram para a História) e nunca ninguém pode prever as suas repercussões. Josephine Witt, ex-membro do movimento feminista FEMEN e «activista freelancer», como agora se define, fez-me lembrar uma outra Josephine, Freda Josephine McDonald, mais conhecida como Josephine Baker, que além de cantar e dançar com a graça própria de quem estava bem na sua pele, também fez parte da Resistência francesa e lutou pelos direitos de cidadania. Oxalá houvesse mais Josephines com fibra semelhante. O mundo, tal como o conhecemos (podre, violento e corrupto), está por um fio. Ou melhor, por uma tanguinha.

2 comentários:

Uva Passa disse...

Belíssimo post.

Carla Maia de Almeida disse...

Mais dia menos dia este blogue vai acabar, mas pelo menos esta "borboleta" ficará. Obrigada, Uva Passa.