terça-feira, 23 de junho de 2015

A ILHA DO TESOURO



Enquanto esperamos (ansiosamente) que chegue às bancas a LER de Verão, aqui fica um texto publicado na edição anterior, na secção de «clássicos recuperados», Biblioteca do Nautilus. A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson (1850-1894), é um daqueles romances sem tempo e sem idade, tal como Peter Pan ou As Viagens de Gulliver, mas que se compreendem com outra amplitude depois de instalada (esperemos que não demasiado instalada) essa época designada por «maturidade. A colecção chama-se Vício dos Livros e é editada pela Civilização. Adoro a(s) capa(s). E nunca me canso de voltar a estes mares turbulentos:

A Ilha do Tesouro
«Estamos mais que nunca no espírito do jogo infantil, entre assédios, surtidas e assaltos de bandos rivais.» Em Porquê Ler os Clássicos? (Teorema), Italo Calvino não se referia à história de Jim Hawkins e do execrável bando de piratas que acompanha o seu crescimento, mas o que afirmou a propósito de outro livro pode ser aplicado, sem reservas, ao clássico A Ilha do Tesouro. É um dos títulos recuperados do catálogo da editora Civilização, com traduções revistas e design gráfico de Pedro Aires Pinto. De Anne dos Cabelos Ruivos (Lucy Maud Montgomery) a O Príncipe e o Pobre (Mark Twain), passando por O Apelo da Selva (Jack London) e As Minas de Salomão (H. Rider Haggard), os doze primeiros títulos estão já definidos.

Se há razões que explicam a qualidade perene e universal de um romance de aventuras publicado em 1883, talvez uma delas se prenda à pulsão lúdica própria do ser humano, ao seu desejo de ensaiar e repetir o jogo, instituído como um fim em si mesmo e, por isso, livre de regras e de retórica. No fundo, a pirataria. Sobre um género em voga no seu tempo, Robert Louis Stevenson aplicou o estilo de narrar enérgico e expressivo, sempre comprometido com a ação, sem maneirismos e moralismos de época. Ao mesmo tempo, divertia-se (é lícito pensá-lo) a construir personagens dotadas de tal graça e manha que não desdenharíamos conhecê-las. É reconfortante saber que boa parte delas foram inspiradas em amigos e conhecidos do próprio autor. 

Obedecendo à sua moral peculiar, Stevenson, um cavalheiro escocês que sempre gostou das más companhias, fará os possíveis para nos confundir, juntando no mesmo barco aparentes virtuosos como doutor Livesey e requintados sacanas como Long John Silver. Chegaremos a decifrá-los? Ganharemos a compreensão profunda destes personagens, das suas motivações e comportamentos? Todo o romance é um jogo de escondidas, e o pacto estabelecido com o leitor de A Ilha do Tesouro – seja adolescente curioso ou adulto nostálgico – não ficará completo sem que este se atreva a perder, porque saber perder também é uma das finalidades do jogo. Nada de grave: os derrotados dão boas histórias. 

A Ilha do Tesouro
R.L. Stevenson
Civilização Editora

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