segunda-feira, 20 de julho de 2015

O COMEÇO DE UM LIVRO É PRECIOSO, 14


   «Foi um Verão estranho e sufocante, aquele em que electrocutaram os Rosenberg. Estava então em Nova Iorque sem saber ao certo porquê. As execuções incomodam-me. A ideia de se ser electrocutado dá-me a volta ao estômago, e os jornais não falavam de outra coisa: cabeçalhos atrás de cabeçalhos olhando-me esbugalhados em todas as esquinas e entradas de metro tresandando a amendoim. Embora nada daquilo tivesse a ver comigo, não conseguia deixar de imaginar como seria ser queimado vivo até à mais ínfima parcela do nosso corpo.
   Deve ser a pior coisa do mundo.»

Sylvia Plath, A Câmpanula de Vidro, Assírio & Alvim, 1988, tradução de Mário Avelar. Originalmente publicado em 1963.

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