«Houve um tempo em que nenhuma mulher da tua família podia votar. Apenas por ser mulher. Mãe, avó, tia, irmã, sobrinha, prima, não importava. Mesmo que fossem muito inteligentes, mesmo que tivessem lido cem ou duzentos livros (o que seria imenso!), mesmo que soubessem dizer a tabuada de trás para a frente ou o nome de todos os rios e afluentes da Ásia (o que seria incrível!), tinham contra si uma série de leis que as julgavam como inferiores aos homens.
(...)
Nessa altura, só podiam votar os cidadãos portugueses maiores de 21 anos
que soubessem ler e escrever e fossem «chefes de família». Então imagina: enquanto
os homens vestiam as suas fatiotas para exercer o voto, as mulheres ficavam em
casa a preparar coisas como cola de arroz, água canforada, cera para móveis e
outras receitas domésticas que agora não servem para nada.
Mas serviu, e muito, a coragem de uma mulher
chamada Carolina Beatriz Ângelo. Foi a primeira médica cirurgiã em Portugal,
uma vitória numa profissão reservada aos homens. E foi também a primeira mulher
a votar, tanto em Portugal como no sul da Europa!»
(Primeiros parágrafos da biografia Ana de Castro Osório - A Mulher que Votou na Literatura, com ilustrações de Marta Monteiro e edição da Imprensa Nacional - Casa da Moeda/Pato Lógico. Escritora, editora, jornalista, ensaísta, pedagoga, feminista, maçónica e republicana, Ana de Castro Osório foi amiga e companheira de luta de Carolina Beatriz Ângelo, a primeira portuguesa a votar nas eleições de 28 de Maio de 1911, numa freguesia de Lisboa. Todas nós, mulheres, lhes devemos o exercício da consciência e da liberdade em dias como os de hoje. Sobre o livro, saiu no Público um texto de Rita Pimenta, também duplicado no blogue Letra Pequena. Obrigada!)
1 comentário:
Olá Carla,
Não conhecia este livro. Muito interessante.
Quero muito ler.
Boas leituras
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