Nem só de banda desenhada se fala no blogue Ler BD. As críticas aprofundadas de Pedro Moura abarcam também muitos álbuns ou picture books, bem como leituras ensaísticas que de outra forma tenderiam a passar despercebidas. Ainda não há muito tempo, saiu um texto sobre Chico-Chorão (Kalandraka), obra de Maurice Sendak que me deu especial gozo traduzir; sem deixar de partir a cabeça, como todos os outros.
Explica Pedro Moura que «este Bumble-Ardy suíno, ou na sua versão portuguesa incontestável e
segura, Chico-Chorão, é órfão de ambos os pais, transformados em chouriço (uma
leitura abusiva quase que poderia explorar vias alucinadas, de projecções do
Holocausto – nada estranho na obra de Sendak – nesta família de… porcos), e
encontra no seu nono aniversário (alguma cerimónia especial, passível de
interpretações simbólicas?) uma ocasião para a libertação de todas as regras. Não quer isso dizer que se chegue a bom porto.»
Muito acertado. Aqui deixo o prólogo, para abrir o apetite:
«Quando Chico-Chorão fez um ano, não houve festa.
(A família riu-se e franziu a testa.)
O segundo ano, o terceiro e o quarto foram
propositadamente esquecidos.
E o quinto, sexto e sétimo, nem sequer referidos.
Mas eis que Chico-Chorão completou os oito.
(Oh, que porquinho tão afoito!)
A família ia engordando, enquanto isso.
Até acabar feita em chouriço.
Então veio Adelina, essa tia deliciosa,
e adoptou Chico-Chorão mal ele fez nove.
Não foi uma sorte prodigiosa?
Ah, pois foi...»
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