domingo, 22 de novembro de 2015

BOM DIA, FRANCISCO



Gostava mesmo de saber como é ter apenas meio dia de vida. Como é que olhas para este mundo onde acabaste de aterrar? O que vês? O que sentes? De que te lembras? Que tens para nos contar? Estou muito, muito curiosa para saber de ti. Estava a ver que não ficava para tia. 


Nasceste em Coimbra, à meia-noite e um minuto, um Escorpião a caminhar para Sagitário, o que promete qualquer coisa. Não sei bem o quê, mas será com certeza qualquer coisa intensa, autêntica, aventureira e um bocado cabeçuda (não te preocupes, vem de família). De qualquer modo, não estás aqui para agradar aos outros, se isso significar seres desonesto contigo. «Don’t be a people pleaser», dizem os ingleses, que também inventaram o «fair-play». Isso é importante. Aceitas um chá? Daqui a uns anos, quero dizer.


Olha, nem sempre precisamos de tomar partido. Podes ser religioso sem professar uma religião; podes ter fortes convicções políticas e ideológicas, sendo apartidário; podes praticar yoga e cometer uns exageros (já sabes que o corpo é que paga, mas pronto). Acima de tudo, não deixes de viver, caramba. Usa a cabeça e o coração para perceber qual é a acção mais correcta para determinada circunstância. Sê um diplomata, mas dá um estalo se for preciso, desde que o outro lado também se possa defender (não vale bater em crianças nem em animais). Quando fizeres asneira, pede desculpa. Diz sempre «obrigado» e «bom dia»; duas vezes, até, porque algumas pessoas são meio surdas, coitadas. Pratica um desporto de que gostes, futebol ou tiro com arco, ou outros, consoante te sintas mais sociável ou mais introspectivo. 


Não deixes que ninguém te rebaixe, te humilhe, te despreze, te trate com indiferença. Não tenhas medo de ninguém. Olha para os dois lados quando atravessares a rua. Acredita que o melhor investimento é sempre em ti, e isso não é egoísmo: se souberes multiplicar, vais ter mais para dividir. Qualquer forma de arte é boa para isso. Como os teus pais são artistas, muitos tesouros vão passar à tua frente e vais morder o mundo com os seis sentidos (o sexto é a intuição). Também podes ter de aprender a viver na corda-bamba, independentemente do talento que possas ter. Mas nunca estarás sozinho. Nunca.


Vais querer sempre fazer as coisas à tua maneira, por isso não vale a pena convencer-te de nada. Muito rapidamente, mais rapidamente do que outras pessoas, vais perceber que todos os gurus têm pés de barro e que os espíritos-livres não te vão querer vender teorias nem receitas. Vais ouvir muitas mentiras: por exemplo, que «o mundo é uma selva», que «as mulheres são chatas», que «os homens são todos iguais», que «quem vai ao mar perde o lugar» e outras coisas bem piores e mais destrutivas. Espero que estejas sempre do lado dos que lutam e não se rendem à ignorância e à maldade. É a única coisa que te peço. Também ficava contente se gostasses dos meus livros, mas isso logo se vê.


Um beijo, 
C.

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