segunda-feira, 9 de novembro de 2015

QUANDO HITLER ROUBOU O COELHO COR-DE-ROSA


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Podemos pôr poucas coisas numa mala de viagem, e foi assim que o coelho cor-de-rosa se perdeu para sempre, tal como se perdeu a vida feliz e tranquila de Anna em Berlim. Isto sucedeu pouco antes de Hitler chegar ao poder, mas foi mesmo a tempo. Anna e a família – os pais e um irmão mais velho – conseguiram salvar-se e tudo fizeram para se manterem unidos. Da Alemanha para a Suíça, da Suíça para a França, da França para a Inglaterra, Anna conta como passou por experiências e emoções muito fortes, que fizeram crescer nela a vontade de escrever ficção. (Sim, esta é uma história semiautobiográfica...)
Neste livro há muita coragem, afecto e sentido de humor, como vais ver. A parte que achei mais interessante foi quando a família está quase a separar-se, e Anna se zanga com os pais. Porque, se ficar sozinha, tem medo de se sentir mesmo como uma refugiada, diz ela. É como se, até ali, a família fosse ainda o seu país... Um país que nunca se pode abandonar. Fiquei a pensar nisto durante muito tempo. Quando estiveres sozinho a ler este livro tão bonito, tão sensível e tão humano, talvez te sintas também assim, e então poderemos conversar sem que ninguém nos ouça.»

[Do prefácio a Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-Rosa, um romance indispensável da literatura infantojuvenil, escrito e ilustrado por Judith Kerr - hoje com 92 anos - e publicado na colecção Caminho Jovens em 1992, com tradução de António Pescada. Há muito tempo que andava ausente dos escaparates e foi um privilégio traduzi-lo para a nova edição da Booksmile. Como a literatura tem o dom de se antecipar à dita «realidade», o acaso e as circunstâncias providenciaram para que reaparecesse no ano em que a Europa enfrenta a maior vaga de refugiados desde o tempo da Segunda Guerra Mundial. Chega hoje à livrarias.]

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