sexta-feira, 1 de abril de 2016

MAUVAIS SANG


Prisioneiros do risco e da tragédia, os piratas cultivam uma exuberância festiva, que no caso de James Gancho se associa ao porte de grand seigneur. Filho indesejado, cativo de um passado misterioso, «revelar quem ele era de facto poria ainda hoje o país a ferro e fogo», insinua J.M. Barrie no texto original de Peter Pan. Essa identidade reprimida mostra-se nos «olhos cor de miosótis e de uma profunda melancolia», um dos seus estados de alma constantes. O próprio autor diz que «o homem não era totalmente mau», embora procedesse como um canalha a maior parte das vezes. Prepotente com a tripulação do Jolly Roger, sádico com as vítimas, capaz de mentir e enganar sem escrúpulos, Gancho é um caso evidente de personalidade anti-social. A educação no colégio interno de Eton não lhe terá feito muito bem. Afinal, talvez seja o mais perdido dos lost boys, fugindo do tic-tac do crocodilo até à hora fatal. Não choremos por ele, já que morreu como um pirata: a rir-se dos seus tormentos.

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