quinta-feira, 31 de outubro de 2013

WENDY NO DIVÃ: LOBO MAU



Em vésperas da chegada da revista LER de Novembro, aqui fica a segunda personagem «psicanalizada» na secção «Wendy no divã»: 

 
LOBO MAU Perseguido, escarnecido, quase sempre derrotado pela astúcia, o Lobo Mau continua a ser o vilão de serviço das histórias. Há quem o queira converter ao vegetarianismo. Má ideia.

Ao contrário do Barba Azul, um serial killer sanguinário e sem perdão possível, o Lobo Mau não é um psicopata puro, apesar da reputação de gangster da floresta, esquivo e intratável, sempre pronto a ferrar o dente em carne alheia. Porquinhos, cabritinhos, meninas impúberes ou velhinhas duras de roer, tanto faz. A fome do lobo é mítica, ancestral, ligada ao instinto primordial da sobrevivência. Para aplacá-la, até o lobo mais viril será capaz de travestir-se de avozinha ou de mergulhar a patorra em farinha, revelando uma propensão esquizóide para o disfarce, à maneira do atormentado Norman Bates de Psycho. Desfavorecido pela sorte, falta-lhe a sofisticação e a inteligência de um psicopata como Hannibal Lecter, outro parente próximo de Barba Azul. Desgraçadamente, é também a pouca sorte que o humaniza aos nossos olhos – e nenhum outro animal se prestou a encarnar os medos próprios do homem como o fez o lobo, esse solitário caçador.

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