segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O DUENDE IMAGINÁRIO


Desde os 13 ou 14 anos, idade em que comecei a poder comprar livros, mantive o bom hábito de rubricá-los e acrescentar a data e o local, no ensejo adolescente de afirmar uma identidade fortuita. Pergunto-me, agora, ao reencontrar essas folhas de rosto calcinadas pelo tempo: Onde estava? Com quem estava? Que emoções me acompanhavam? Que queriam dizer de mim aqueles sublinhados trémulos? Experimento uma hipótese de itinerário, de pertença, de memória pessoal, de constelações de interesses e de afinidades. Salvo-me do desaparecimento, da invisibilidade, da aterradora fragmentação do ser. Um dia, deixei de assinar os livros, acreditando que, mais tarde ou mais cedo, iria mudar de país; e talvez a minha modestíssima biblioteca fosse mais fácil de vender sem o meu nome aposto. Oh, estupidez das coisas começadas e interrompidas em nome de outras coisas que nunca acontecem! Afinal, continuo aqui. Os livros comigo, sempre fiéis, à espera. Entre nós perfilam-se anos perdidos em que não tive a coragem de os chamar meus nem de os libertar para outras mãos e outros nomes.

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